sábado, 30 de novembro de 2013

Lipogênese e lipogênese de novo: açúcares gordurosos

   De modo bastante abrangente, o termo lipogênese pode ser empregado para se referir a toda e qualquer síntese de lipídios, mas neste post vamos focar na síntese endógena de ácidos graxos, a lipogênese de novo. 
   A lipogênese de novo(LDN) se caracteriza como uma via enzimática de conversão de carboidratos a gordura, o que ajuda a explicar a relação entre a atual epidemia de obesidade e a adoção de uma dieta hiperglicídica pela sociedade ocidental. Segundo um estudo do Departamento de Ciências Nutricionais da Universidade de Berkeley, uma substituição isocalórica de uma porção de lipídios por outra de carboidratos  por si só não é suficiente pra induzir a LDN hepática, mas, quando o total de ingestão de carboidratos ultrapassa as expensas totais de energia, o excedente pode ser convertido a gordura para armazenamento, uma vez que lipídios são moléculas mais reduzidas e, portanto, sua oxidação fornece mais energia.
                 Lipogênese como via metabólica


   Em dietas mistas normais, a lipogênese ocorre a taxas baixas (em geral, a massa de palmitato formada endogenamente não chega a 5% da massa dos ácidos graxos da dieta), pois os destinos metabólicos dos carboidratos são a produção de glicogênio e a oxidação. Entretanto, no contexto de uma dieta tica em carboidratos, a lipogênese passa a ser mais ativa. Em ambos os casos, o processo metabólico que ocorre pode ser esquematizado em quatro etapas (condensação, redução, desidratação, redução) e ser descrito da seguinte forma:
   A LDN é uma síntese redutora que tem como substrato imediato a Acetil-CoA e como coenzima empregada o NADPH. O Acetil-CoA é produzido na mitocôndria a partir do piruvato por ação da piruvato desidrogenase (PDH). Como as enzimas da LDN são citossólicas, o Acetil-CoA deve ser transportado ao citoplasma sob a forma de citrato, que, posteriormente, é cindido por ação da citrato liase (com gasto de ATP), liberando oxalacetato e Acetil-CoA.
   A síntese de ácidos graxos (como exemplo utilizaremos o ácido palmítico) ocorre a partir da adição sucessiva de unidades de dois carbonos a um Acetil-CoA inicial. Essas unidades de dois carbonos também provêm do Acetil-CoA, mas antes ele é convertido a Malonil-CoA (3C) por ação da enzima Acetil-CoA carboxilase (ACC).
   ACCà é uma ligase que contém Biotina como grupo prostético e que catalisa a formação de Malonil-CoA a partis de Acetil-CoA (com gasto de ATP). Está presente também em células que não fazem lipogênese, e.g. miócitos, para atuar na regulação da beta-oxidação.
A segunda enzima envolvida é, na verdade, um complexo multienzimático chamado Ácido graxo sintase(AGS) que desempenha várias atividades catalíticas.
   A síntese do palmitato começa com a transferência de um resíduo acetil da acetil-CoA para um grupo tiol de um resíduo de cisteína da AGS e com a transferência do resíduo malonil da malonil-CoA para outro grupo tiol, o grupo tiol da 4’-fosfopanteteína. Em seguida, há a transferência do resíduo acetil para o carbono dois do resíduo malonil, com uma descarboxilação, formando aceto-acetil-enzima. Em seguida ocorre a redução do aceto-acetil-enzima a D-hidroxi-acil-enzima, que então é desidratado a ∆2 -enoil-enzima que é novamente reduzido a acil-enzima. Depois da adição de mais uma unidade de dois carbonos ao acetil, o acil-enzima formado será o butiril-enzima. Ciclos semelhantes ocorrem de modo que a cadeia aumenta de dois em dois carbonos. Na fase de palmitil-enzima (C16) ocorre  a hidrólise (tioesterase) e a libertação de palmitato não esterificado.

                 Aspectos regulatórios
·         Insulina: A concentração desse hormônio aumenta com o aumenta da glicemia, indicando que a carga energética está alta. Assim, estimula o armazenamento por meio, por exemplo, da lipogênese. Esse estímulo se dá por duas formas principais:
o   PDH:  A insulina aumenta a desfosforilação dessa enzima, tornando-a ativaà Aumento de Acetil-CoA
o   ACC: A insulina aumenta a desfosforilação dessa enzima, tornando-a ativaà aumento de Malonil-CoA. Também é ativa por excesso de citrato.
·     Além desse mecanismo de controle por metabolismo de cardoidratos, também há um mecanismo de regulação baseado na resposta aos níveis de esterois.

·                             Regulação da expressão gênica
       Um estudo de Towle e Postic revelou que o metabolismo de glicose, além da influência da insulina, podem causar alterações na expressão gênica. Esse estudo mostrou que, para dietas hiperglicídicas, há um estímulo da expressão gênica dos genes da  piruvato quinase hepática, ACC e AGS. Esses genes são induzidos por fatores de transcrição ChREBP/Mlx através de níveis de glicose no sangue alto e eventos de sinalização qoe ainda não foram completamente desvendados. A indução mediada pela insulina atua na regulação dos níveis de SREBP-1 c, também relacionado ao metabolismo do colesterol.

Divergências da lipogênese de novo: benefícios X malefícios


   Uma vez que a LDN pode originar diversos ácidos graxos, ela podem trazer ônus e bônus, conforme os efeitos desses ácidos graxos no organismo.
   O ácido palmítico, por exemplo, aumenta a produção de citocinas pró-inflamatórias e de espécies reativas de oxigênio. Já outros ácidos graxos, como o ômega-3 (origem exógena), possuem ações benéficas nos sistemas imune e cardiovascular.
   A LDN hepática possui efeitos deletérios, aumentando os níveis séricos de triglicerídeos e os níveis de lipídios intra-hepáticos (levando à esteatose). Ademais, altos níveis de DNL no fígado estão associados à resistência à insulina.
   De modo oposto, aumentos na expressão de enzimas lipogênicas no tecido adiposo estão associados com aumento da sensibilidade à insulina em humanos de modo independente da obesidade.

Referências

                                                                                                                                                              Hellerstein MK, De novo lipogenesis in humans: metabolic and regulatory aspects.                                                                                                                                                                                        

Catherine Postic,  ChREBP, a Transcriptional Regulator of Glucose and Lipid Metabolism


                                                                                http://www.asbmb.org/asbmbtoday/asbmbtoday_article.aspx?id=15872

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